segunda-feira, 22 de outubro de 2007

A sombra.

Um continho de assombração - não me julgue, sei que parece um drama, mas na falta de qualquer outra coisa para escrever, foi isso mesmo... Detalhe: escrevi para minha aula de redação. :$

A casa não era tão antiga. Foi construída há uns quatro anos, quando o bebê nasceu. Era bonita até, de madeira reforçada, pintada de amarelo vivo que contrastava com as grossas portas marrons. A entrada dava para uma sala ampla com grandes janelas, onde agora se via apenas um velho sofá e uma mesinha, outrora suporte da televisão. Um pouco além, exatamente no meio da casa, era a cozinha. Duas bonitas cadeiras de madeira, empoeiradas pela ação do tempo, jaziam no ambiente, e nas paredes ainda permanecia a marca da disposição dos antigos móveis e utensílios. Todo o resto fora levado dali.
O primeiro quarto era do casal e, por sinal, foi o único que se mantivera intacto. A bela cama estilo Luis XV repousava ao lado da porta com os pés voltados para a janela e ocupava duas paredes, tomando conta de quase todo o espaço, sobrando apenas uma parede lateral para o guarda-roupa vazio e o antigo aquecedor a gás. Os outros dois quartos eram banhados apenas com a penumbra do anoitecer e revelavam as sombras das árvores do quintal.
Fazia tempo que ele não entrava na casa. Desde o dia que ela tinha carregado tudo e ido embora com o seu pequeno bebê, há um ano. A imagem daquele lugar, que um dia fora um lar feliz, chegava a lhe dar arrepios. As teias de aranha e o pó eram os novos habitantes e não pareciam dispostos a sair.
E, por pior que fosse a situação, ele sabia que teria que ficar ali, já não tinha para onde ir. O ano que passou na casa de reabilitação tinha sido lento e doloroso, e agora, curado, deveria seguir em frente.
Receoso deu um passo na sala, tentando adaptar-se à nova situação, e um rangido fino e dengoso tomou conta do ambiente. Tinha até esquecido como fazia barulho aquele chão de tacos. Criou-se uma sinfonia em cada passo dado. Olhou para fora a procura de algum passante, mas tudo que viu foi o balanço, cada vem mais intenso, das árvores. Aquele final de tarde de julho era o típico dia de inverno. O vento tomava cada vez mais velocidade, fazendo com que as árvores emitissem um murmúrio longo, quase uma canção selvagem.
Preparou-se para dormir. Lavou o rosto no pequeno banheiro que ficava entre o seu quarto e o antigo quarto do bebê. Seria o tamanho do banheiro, motivo de briga constante, que teria feito com que ela fosse embora? Agora os lamentos já não adiantavam. Ligou o aquecedor, que por sorte ainda funcionava e rapidamente esquentou o ambiente. Deitou-se na cama, no seu lado direito de sempre. Com uma mão puxou a porta e a fechou completamente. Apagou a luz e procurou esquecer o que o ano que passou não conseguiu. Precisava, pelo menos naquela noite, dormir em paz.
Adormeceu. Os sonhos começaram a rondar sua mente. Seu menininho foi o primeiro que tomou forma. Os primeiros passinhos, a risadinha gostosa que fazia cada vez que ia tomar banho. Um delicioso filme em câmera lenta. Ele havia decidido não tomar mais o remédio, precisava sonhar. E aquele sonho era muito bom. Sua esposa sorrindo, marcando as bochechas sardentas daquele rosto tão delicado.
O coração dispara. A imagem daquela sala vazia, depois de um longo dia de trabalho, volta a sua mente. O desespero toma conta de sua alma e o ritmo incessante da chuva que jorra lá fora o conduz para a busca desenfreada de uma explicação. Ela saiu sem deixar rastros e ele foi atrás. E o encontro foi trágico. A cena do caminhão tombado repercutiu sua mente e o barulho do vento em contato com as paredes de madeira ficava cada vez mais forte. Os galhos das árvores batiam com violência na janela, coberta com uma fina cortina branca. Eles haviam morrido naquela noite, um ano atrás. Ela jamais deveria ter saído daquela forma de casa e levado seu pequeno tesouro junto.
O som da batida do caminhão misturou-se ao angustiante som da chuva. Apavorado, acordou molhado com o suor que saía de cada parte de seu corpo. Estava encharcado, como se estivesse estado na chuva. Olhou o reflexo produzido pelos raios através da cortina e teve medo. Fechou os olhos, na expectativa de que aquilo fosse um sonho. Lentamente os abriu e como sorte tudo se acalmou. Os últimos pingos de chuva foram ficando serenos e ele tentou adormecer novamente. Somente o barulho de madeira ficou no ar.
Então um frio estranho, penetrante, invadiu o quarto e fez com que ele tivesse calafrios. Era inexplicável aquela sensação já que o aquecedor estava ligado no ponto mais alto. Levantou, verificou que o aparelho funcionava normalmente e tornou a deitar. Mas aquela sensação depressiva e angustiante continuava. Não havia ninguém ali que pudesse ajudá-lo. Ouviu então, passos. Um alívio tomou conta do seu ser. Era reconfortante ter alguém por perto. Mas quem estaria rondando a casa na calada da noite? Tremendo de frio fez um esforço e foi abrir a janela. Não viu ninguém. Estaria ficando louco? Recolheu-se no meio das cobertas, quase em posição fetal. Silêncio outra vez. Seus sentidos já não correspondiam à realidade. Uma forte batida na porta da frente lhe fez tremer. Estavam tentando lhe pregar uma peça, sabia disso. Tentou relaxar e não parecer impressionado. Mas o medo, ah o medo. Ratos, uma casa há tanto fechada deveria ter ninhadas deles. Passos. O barulho de salto alto em contato com o chão caminhando lentamente em direção ao quarto o surpreendeu em meio a seus devaneios e deixou sua respiração ofegante. Sabia que havia trancado bem as portas. Recolheu-se novamente e cerrou firmemente os olhos. Que peças mais o destino havia de lhe pregar? Um suave rangido penetrou em seus ouvidos. Era a porta do quarto abrindo vagarosamente. Sentiu um suspiro frio no pescoço e gelou. Escutava, vindo do quarto ao lado, o choro intermitente de uma criança. Soava como melodia. Ela estava de volta, enfim, agora sim poderia descansar.

10 comentários:

Anônimo disse...

E aê, Andressa, diga lá, aonde que dói?
:>)

Qualquer coisa: benett74@uol.com.br

Andressa Berkenbrock disse...

Uau! O cara mais ágil do velho oeste!

CuriosidadePontoCom disse...

Humm por isso causou furor.. estilo de história que me faz a cabeça..
Vc tem que escrever um livro!!!!!!!
DE suspense de preferência.. shaushuahsuahsuahsuahu..
Amei!
=**

Anônimo disse...

Garota, livro URGENTE!
Isso tá muito bom menina! Posso falar com a Moderna?

Parabéns!

Andressa Berkenbrock disse...

Profe Dani Dani!!! Que saudade monstuosa de você!!! Hahaha... Moderna? Boas recordações hem! Mas não vamos exagerar né!
Tem meu e-mail no perfil, mantenha contato! Afinal, bons mestres devem ser muito bem guardados!!

Obrigada amiga! Vou escrever um livro exclusivo para você!!! hihihihi...

=*

Uma sombra solitária... disse...

Sensacional. Você deveria ser menos humilde, mocinha.

Beijo.

Anônimo disse...

Oi amada. Que ótimo que está isso!

Beijos
Ale

Unknown disse...

Guriaaaa cade o livro que vc tava escrevendo? To morta de curiosidade pra ver como ficou! E já estamos em novembro e n tem nada teu por aqui! Bjs Jana

Andressa Berkenbrock disse...

De humilde não tenho nada, cara sombra solitária. Sou realista, o que é bastante diferente - descrições completas em Larousse.

Oba! Visita surpresa!! Tudo bem Ale? Obrigada pela força!

Ainda não está pronto, Jana. E é segredo, lembra? Ano-que-vem-tem.

Coloquei dois textos (ultra mega copiados do arquivo que escrevi essa semana - falta de tempo total) em sua homenagem.
Semana que vem coloco uns dois parágrafos do 'tal', comentado ai em cima...

=** a todos, e voltem sempre!

Anônimo disse...

Vc tá escrevendo um livro?