terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Deus, sexo e o carnaval!

Recife tá pegando fogo. E dessa vez não é por causa do calor.
Depois que o Ministério da Saúde divulgou que faria distribuição de camisinhas e pílula do dia seguinte no carnaval, o arcebispo de Recife e Olinda, dom José Cardoso Sobrinho, entrou em crise. E com uma ação no Ministério Público Estadual, ontem, solicitando, 'em caráter emergencial', a suspensão da entrega do medicamento pelo sistema público de saúde. Em todas as épocas, frise, não só no carnaval.
O fundamento da ação? 'A lei de Deus, que está acima de qualquer lei humana'.
O Ministro da Saúde, José Gomes Temporão, declarou ontem, que a Igreja cada vez mais se afasta dos jovens com esse tipo de postura. A resposta, do outro José, foi que quem faz o mal para os jovens é quem está difundindo o mal, induzindo os jovens a praticar sexo à vontade, gastando dinheiro para eles usarem camisinha e etc, violando a lei de Deus.
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Dai eu pergunto: Alguém precisa induzir o jovem a fazer sexo?
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Bem no dia do jornalista leio um edital que me faz dar cinco estrelas para a profissão. Fazia tempo que não tinha orgulho, tava faltando essa. O edital de hoje, da Folha:
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É inapropriada a decisão do arcebispo de Recife e Olinda, dom José Cardoso Sobrinho, de entrar com representação no Ministério Público com o objetivo de obter, através da Justiça, um veto estadual à contracepção de emergência - isto é, à distribuição da chamada pílula do dia seguinte, que o Vaticano considera abortiva. Não compete à Igreja Católica determinar políticas de saúde pública.
É claro que o prelado tem o direito de acionar o Ministério Público e o Judiciário quando bem entender e por qualquer motivo que lhe pareça bom. Reconhecer essa prerrogativa básica da cidadania, no entanto, não basta para tornar o pleito de dom José justo ou razoável.
Sacerdotes então, por razões de economia interna da igreja, obrigados a colocar-se contra o aborto e a maioria dos métodos contraceptivos. Devem tornar públicas suas posições e guiar seus fiéis. A aceitação dessas orientações pelo cidadão é uma questão de fofo privado - as pesquisas e o senso comum indicam que a grande maioria das pessoas que se declaram católicas as ignora.
O arcebispo, entretanto, extrapola as fronteiras da moral privada quando pretende impor a conduta católica a todos os pernambucanos, partilhem eles ou não dos dogmas da igreja. A sociedade já definiu, pelos canais competentes e com o auxílio da ciência, que o emprego da pílula do dia seguinte não configura aborto.
As autoridades sanitárias têm a obrigação de tentar reduzir os indíces de contaminação por doenças sexualmente transmissíveis e de gravidezes indesejadas. Devem para tanto, usar de todos os recursos legais à disposição, aí incluída a pílula.
Faria melhor a arquidiocese de Olinda se observasse uma valiosa lição do Evangelho: "Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus".

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